Jul 24, 2008

Um conto pode ser um conto?

Polegarzinho foi e eu com ele.
Por quartos de chão de madeira, em danças complexas e estudadas.
As portas abriam-se para nós de par em par e ao fundo, um espelho.
Eu era a miúda que estendia os braços e a cabeça pendente era olhos semi-cerrados e boca entreaberta. A túnica branca era como uma segunda pele e eu rodopiava automaticamente sobre os meus próprios pés em ponta.
Polegarzinho sorriu e eu com ele.
Como se um contentamento maior viesse de dentro e explodisse em mil fogos de artifício através de todos os órgãos dos nossos corpos. Se eu tinha mãos, se eu tinha pés, não o sabia, o movimento era como um respirar de qualquer coisa maior, eu as narinas e tremia o ar passava por mim eu era o ar eu respirava-me.
Polegarzinho caíu e eu com ele.
O chão não era coisa que nos parásse. Escavámos um buraco milimetricamente pensado, as minhas unhas de terra eu terra terra na boca da cara de mim. A terra húmida era um conforto para o meu corpo cansado. Descansei na terra húmida como um último sono.
Polegarzinho foi e eu com ele.
Na terra, ficou o corpo inerte.

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