Histórias de Ócio II
Durante anos vestiu as calças velhas do irmão mais velho e sujou a cara de terra e correu a brincar com os rapazes. Atava o cabelo num rolo, assobiava com as mãos nos bolsos e era a mais certeira com a fisga.
Até certo dia, em que um dos rapazes do grupo lhe pegou na mão suja e lhe depositou uma rã viscosa dizendo, É para ti. Olhou-o nos olhos e o que viu encheu-a de espanto, mas de medo também, e, por isso, voltou costas e desatou a correr, só parando em casa. Depois de recuperar o fôlego, deixou a rã saltar-lhe das mãos para as terras enlameadas ao pé do lago que via da janela do seu quartoe entrou em casa para se olhar, pela primeira vez, ao espelho.
A partir daí, tudo mudou.
Primeiro, pegou num ramo muito fino caído no chão e com a lama com que antes sujava indiscriminadamente a cara, pintou riscos à volta dos olhos e dos lábios, e subiu a um banco pequeno para ver o resultado no espelho alto da casa-de-banho.
No comments:
Post a Comment