But louder sang that ghost
Tédio é ouvires duas pessoas falar na diagonal de coisas herméticas (para ti) - eu penso que o teorema do Raabe-Duhamel não estava no meu top ten de temas para se falar num jantar de anos quando estava a dar isso na faculdade - e teres ao teu lado um rapaz de olhos azuis que também não sabe o que dizer neste cenário. Por outro lado, a pessoa à tua frente está absorvida na conversa com a pessoa ao seu lado direito e tu não podes entender o que dizem (não sabes ainda ler os lábios) porque a conversa hermética flui nessa diagonal separadora, e tu deste lado.
Mas houve conversas interessantes.
Sobre filmes: o Dogville foi, como de costume, vaiado, embora eu e a T. o tenhamos tentado defender (sem qualquer eficácia - a eloquência não foi o meu forte nessa noite); o Donnie Darko também foi vaiado, mas sobre esse não me posso pronunciar; o Mulholland Drive foi também vaiado, mas desta vez com o meu consentimento e apoio (falando de coisas herméticas...).
Sobre metafísica:
Efeito <- Causa <- Efeito <- Causa <- Efeito <- Causa ... ad eternum
Mas qual a causa primeira e porquê?
É verdade que tudo está determinado porque há regras, e as regras não falham?
Que simples, então, viver - não temos qualquer responsabilidade, porque "a culpa é das regras". Porquê castigar uma pessoa que mata outra se ela só podia matá-la, se pensássemos em todas as regras que nos rodeiam e que levam incontornavelmente ao assassino, à vítima? Não aceito um "porque o castigar também é inevitável porque está nas regras".
Essas regras-deuses que só podemos observar ao microscópio. Quem diz que as regras da física/química se reproduzem sem mácula a um grau de complexidade terrivelmente maior? Não é dizer isso também um "salto de fé"? Mas não, não, a fé não pode entrar no vocabulário de certos cientistas, como se estivesse para sempre manchada de uma conotação repressora, enganadora, e outros oras com cara de papões num escuro que é o desconhecido.
Mas sim. Se não podemos saber, é fé. Indução não é fé? Bem, não posso ser completamente radical, mas não podemos dizer que, de facto, algumas induções têm um pouco de fé? E que mal tem isso?
Viagens no tempo, também. Mas aí consegui explicar-me. Porque a diferença essencial entre tempo e espaço, é que a partir deste momento em que escrevo estas linhas não posso voltar ao "lugar" de cinco minutos atrás, porque será irremediavelmente mais tarde. Não digo que se hoje se construísse uma maquineta, ou qualquer coisa assim, à velocidade da luz, ou a uma fracção suficientemente grande dela, não pudesse acontecer visitarem, no futuro, o passado que hoje será então. Mas nós, homens de hoje, estamos "condenados" ao nosso presente e a um futuro, como todos os futuros, incerto. Como todos os futuros? Se há regras que determinam tudo, se está tudo determinado, quando conseguirmos achar essa regra maior, induzindo de todas as regras pequeninas, a nível dos átomos, então veremos claro o nosso futuro desenrolar-se à nossa frente. E tempo e espaço confundir-se-ão e será tudo o mesmo.
'What then?' sang Plato's ghost. 'What then?'*
* W. B. Yeats, What then?
6 comments:
Minha querida, os cientistas (que o sejam, de facto) não têm que se pronunciar sobre fé, nem os crentes se devem pronunciar sobre ciência com base na fé. São planos distintos e exclusivos de interacção com o mundo. Morreu demasiada gente nos últimos séculos para que as águas se separassem.
Mas explica-me, porque é que a fé tem que estar sempre associada à Igreja?
Acreditar (sim, porque é acreditar o termo certo) que tudo se rege por regras da física e que não é simplesmente o caos, é fé.
Fé: s. f.
1. crença absoluta na existência ou veracidade de certo facto; convicção íntima
(...)
3. confiança absoluta (em algo ou em alguém); ...
(...)
Mais uma vez manifesto aqui abertamente o meu desagrado pelo teu tom paternalista...
A crença é uma atitude que não se resume à religião, claro. Mas a ciência fornece evidências, e as evidências não são objectos de fé. Ou se assumem ou se rebatem e substituem por alternativas. Claro que o que podemos discutir é se a relação que temos com a ciência, enquanto não-especialistas, é uma espécie de fé. Acho que não por uma razão muito simples: todas as funções se estabelecem através de pactos sociais, em que confias que todos desempenham o melhor possível o seu papel. E que as evidências que produzem podem ser confrontadas publicamente em qualquer altura. É por isso que essas evidências devem poder ser replicadas, ou reavaliadas. Uma convicção íntima diz apenas respeito a quem a tem e não tem de ser confrontada com o que quer que seja. Tu acreditas que estou a ter um tom paternalista; eu acho que isso é só impressão tua, mas não posso fazer mais do que o dizer.
Oh, mas agora mudaste de tom :P
A ciência não explica tudo, por isso, aplicares regras que conheces a coisas que desconheces, é fé.
Pois, mas podes criar as tuas próprias regras para as coisas que a ciência conhece. Podes acreditar que a terra é quadrada que ninguém te vai chatear por isso! O problema é quando os crentes querem obrigar outros a sê-lo nas suas matérias. E, ainda pior, sob a capa de ciência, que é o que está a acontecer nos EUA de maneira assustadora. Estas conversas são mais importantes do que às vezes parecem...
Alo
Já não comentava o teu blog há montes de tempo. :)
Desses três filmes....Não vi o Darko. Os outros dois acho que se equivalem na monotonia que oferecem ao espectador :P
A monotonia que umas pessoas dão às outras com as suas conversas pseudo-intelectuais.....Pois, há que fugir delas! E se não pudermos fugir delas, tapar os ouvidos com algodão, beber o vinho que temos à refeição de penalty para entendermos com mais clareza o que elas dizem.
bjs
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