Jul 13, 2007

Da música e seus intérpretes


Não nos enganemos a nós próprios. À criança (mesmo prodígio) falta-lhe a presença que só um adulto pode ter. O que pode a criança dar à música? O que viveu a criança nos seus 7 ou 8 anos aqui? A criança absorve a música, e a sua memória ajuda os gestos mecânicos com que aperta as cordas do violino, segura o arco demasiado grande.

(Paganini e Massenet nunca estiveram tão longe um do outro, e não é por um ter nascido depois do outro ter morrido)

A criança compenetrada ainda não aprendeu a cativar a sua audiência. A criança pode nem saber que sim, é a sua audiência. A criança ignora a audiência. A criança transmite as notas da peça de Paganini através dos seus dedos e nós recebemo-las insípidas.
Mas o som da criança pode ser cativante, mesmo sem presença, por ser ingénuo, infantil, cru. É aquilo que é.

O adulto, por sua vez, sabe que estão a ouvi-lo, sabe que se está a ouvir a si próprio. A sua audiência, e o mais cruel espectador é o próprio.

E que diferença.

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