Aug 12, 2007

Às vezes anseio por coisas. Coisas, não sei bem o quê, coisas.


Se eu pudesse, tivesse de novo o espaço infinito à frente onde correr de braços abertos...

Mas, penso com ironia amarga, nunca houve um passado com corridas de braços abertos na minha vida.


Se o Peter estivesse aqui, diria que sim, que eram estranhas, essas vidas, que nunca levámos...


Mas não. Não está ele e não estão outras pessoas que, pelo menos da maneira como sempre habitaram esta espécie de mundo na minha cabeça, são irreais. Não, não. Eu, aqui, sou só eu. Não há outros ombros, ou peitos, palmadinhas reconfortantes...


No fundo, queria apenas um pouco mais de tempo.


Ou se calhar não. Não pode ser isso, só isso.


Não sei bem o que é.

A percepção como sol sol cega cega: que me importa a mim não conseguir fazê-lo? Ser eu o lápis, o pincel, a voz, o corpo? Que me interessa ser tudo isso? Poder apreciá-lo não é já dom suficiente? Não preciso de sentir-me a criadora... Aquele prazer sereno enquanto os meus sentidos se apoderam de tudo, tudo, tudo o que não é meu.

Mas é. É meu, é meu, só pode ser meu. Senão, que fonte exterior poderia jorrar estas emoções como um êxtase particular? Que fonte exterior?

São todas dirigidas a mim (são todas) porque eu (eu tu eu tu) sou tudo. Os mitos, a música, todas essas imagens bonitas. Dirigidas a mim como uma flecha.

Zing.

vibra(toing)ção

E o meu coração, encarnado. A flecha, a ponta da flecha, a entrar na carne. A carne e o sangue e a carne. Tum tum, tum tum. Tum... Tum...


Quero sentir essas coisas.
Quero sentir essas mãos geladas na cara.
Quero sentir esse ar quente, esse hálito.
Quero sentir esse vermelho dos teus olhos.
Nos teus olhos.

Quando choras.

E que culpa tenho eu? Não sou eu o autor, a água não é minha, não te pintei de vermelho.

As abelhas mortas nos caminhos como um tapete. Eu quero que sejam pretas, mas elas insistem no amarelo.

E tu choras. Sentas-te, para chorares mais confortavelmente.

Quero sentir esse sal na língua.

Língua.

Guardanapo.

Porta.

Talvez.

E tu, ainda longe, ainda choras?
Sim, sim, eu sei que ninguém chora.
Mas soa melhor assim.

2 comments:

éf said...

magnífico. e ainda por cima escreves correctamente.

;)

W said...

:) Obrigada