Feb 14, 2007

15º

(...)

Às vezes chega a hora de destruir sonhos.
Parte esses vidros de picuinhas.
Rompe esses músculos moles.
Rasga esses lábios em sangue.

Às vezes chega a hora de crescer
Largar as bonecas
Largar os planos
Largar as coisas que te aquecem o coração.

Esses trejeitos repulsivos de menina mimada.

Se for preciso:

Esmaga o metacarpo; as falanges, falanginhas, falangetas.
Fura o olho esquerdo.
Arranca os dentes da frente.

Não te apegues, não te apegues, que tudo passa.

E alimentar sonhos risíveis é para burros.

É preciso ser.
(= ser adulta)
Esconde esse órgão traiçoeiro atrás dos cortinados.

Não toleres. Não toleres.
As lágrimas diluem o sal.

Há mais alguém, mais alguém além de ti e tu não podes competir.
Faltam-te:
pernas
braços
língua
engenho e arte

Amputaram-te (à nascença) esse dom da concretização.
Mas, mas, mas.
Dói-te censuracensuracensura? Mas que censuracensuracensura? Mas que ferida?

Examinemos a ferida.
Mexe na ferida. Abre a ferida. Infecta a ferida.
E depois...
...arranca essa parte podre de ti.

Não comas os teus.
Não engulas em seco.
Prende. Solta. Bate palmas. (mas não demasiadas)

És
És
És
Enquanto sentires esse frio, és.

Bebe.
Esquece-te de letras. Mas lembra-te sempre a seguir.

Põe fim ao marasmo.

OU

Fim.

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