O futuro foi ontem e tu, que fizeste? Deitaste nas águas estagnadas de lagos as rosas brancas de seres rio. Como podias pensar numa vida fechada em caixa de corda partida? A bailarina há muito que fez a vénia, e os cortinados arrastam-te para os bastidores.
Eras vermelha. Encarniçada e o sangue escorria-te pelas mãos, pelos braços, pelas pernas abaixo e tu eras uma mancha. Vermelha. Gritavas cores quentes nos sons ondulados do deserto, mas as árvores resgatavam o teu grito nas suas folhas verdes.
As pedras que guardaste para atirar para o lado de lá do muro desfizeram-se em areia e o vento levou-as. O que hás-de fazer agora ao outro lado de ti?
Ontem foste. Mas não soubeste que era então que tudo se decidia. Tudo. E quiseste esquecer dormir fechar os olhos. Eras tu e a praia. Eras tu e o mar. À volta, nada. Os gritos estridentes de pássaros desconhecidos, talvez. Mas não havia gente dentro de ti. A praia, apenas. E tu, talvez. Tu talvez na impossibilidade branca da praia azul.
O futuro foi ontem e tu roubaste-lhe a bicicleta. Mas não sabias pedalar. O futuro perdeu o ontem de ser. Roubaste-lhe o meio de transporte e chora agora à beira da estrada.
Todos somos metáforas forçadas, mas uns mais que outros, e umas mais que outras. Ainda assim, iguais. Tão, tão. Talvez tenha apenas beijado os teus lábios. Tão iguais. Se calhar não foi... ser infiel. Eram lábios também, e língua. Embora poucos, pouca. Eram sobretudo partes de corpos, como no talho. Pendurados em ganchos, ou talvez não, e isso não és tu. Tão iguais, mas não tão iguais. Ainda diferentes. Ainda.
Viste-me no ser-me o reflexo no espelho e não te assustaste. Curvas que não, não gosto na espera de um elevador. Um desejo estúpido. E é verdade que é preciso, é preciso ter-se muito cuidado com o que se deseja.
Feb 11, 2007
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