(numa caixinha de música)
Desejo febril de explodir
E ser alguém pendurado numa colcheia
Ou numa entrada ársica como que
Suspendendo a respiração
Ou acelerando-a, repetindo
As palavras-símbolo da minha própria
Demência.
Como gostava de ser alguém
Numa estrela ou cabeça
Algo concreto, palpável
Duro mole áspero macio
Algo de tangível, digitalmente sensível
Algo como que um beijo
Em forma de gente
Mais que um corrimão de rua
Escadarias velhas, mais que os
Degraus e o vão da escada
Poder ser a madeira ao mesmo tempo
Que os pés que a pisam e a cabeça
Que a pensa.
Escolher um continente como quem faz um ninho
Ave que não migra porque sabe
Que a morte está perto
E cantar num rebentar de pulmões
Mesmo sabendo que o mundo não pode
Não quer não ouve
Saber a limão como quem deita ácido
Na própria pele para ver se existe
Mãos e olhos e boca e coração aberto
Rasgado, virado, desprezado
E sorriso de dentes e batôn
Sem som de alma por perto
Como Pai Natal de roxo
Ou cristã de burca
E sobretudo ser Homem, ser Mulher
Ser humana.
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