Anoitecer
Só uma coisa, uma coisinha
Nas entrelinhas duma linha
Quer fosse grande, quer pequenina
Barro nas mãos duma menina
E voar alto até às ‘strelas
Chorar e rir só de querê-las
Amar o mar e o marinheiro
Andar na rua a pedir dinheiro
Em cada noite querer o sol
Saber o isco e morder o anzol
Dor de cabeça quando está quente
O nome sujo na boca da gente
Sentir a dor como uma doença
E as lágrimas a aproximarem a sentença
Sentir o braço como um empecilho
E o brilho amargo do tejadilho
Sentir-me enferma, sentir-me doente
Cortar os pulsos, rasgar o ventre
E andar feliz com toda a gente
Como quem dizendo a verdade mente
Carvão a mais na lapiseira
É a perna que falta na cadeira
Querer dormir, cortar o laço
Encostar a cabeça no meu próprio cansaço
Morrer como quem já viveu tudo
Deixar no mundo um selo mudo
Querer chegar sem querer partir
Lábios rasgados no Sorrir...
Mas um segundo antes de ter adormecido
Sei bem que amanhã estará tudo esquecido.
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