Feb 11, 2007

Corrimão

Sinto-me cheia de nada e agarro-me à cabeça como quem se agarra ao corrimão
E a minha cabeça dava um bom corrimão
Entre as mãos passageiras de alguém
Talvez de um ferro ferrugento ou talvez de madeira branca
Ou ainda de pedra fria...
Mas o essencial é que me sinto rebentar de tanto nada
Que sou, que me sinto,
Odor natural do meu corpo
Substância normal em que consisto.
E sou eu, o Nada que atormenta
Que vagueia sem rumo pelas cidades
E que bate à porta levemente
E que disfarça a voz para conseguir entrar.

E como um deserto que não conhece o seu oásis
Sinto-me seca, velha, abandonada,
E de uma maneira geral e confusa, dispersa, dividida
Triste, doente, febril...

Não sei quem me visitou o dia em que era feliz
Mas, por Deus, como amaria sabê-lo
Não sei quem visitou e recordo-me apenas vagamente
Dessa visita festiva
Que me levou nos braços até um trono de sonho
Não sei se era ele o príncipe encantado
Talvez Filipe, talvez Eric
Ou se seria ainda o sapo, feito gigante...
Só Ele sabe, e eu calo-me.

Como gostaria de saber as razões
A razão que levou ao desaparecimento das fadas
Das florestas adormecidas em que me passeava
Quando tinha medo do calor
Onde estão as ilhas e os oceanos
Onde estão as flores nas palavras?
Que eram senão mentira?
Mentira e saliva gasta?
E lágrimas de sal e sangue:
Minha alma ferida... Perdida e reencontrada
Talvez num beco sujo e escuro... Não me recordo
E dói a memória como o ferro em brasa

(...)

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